Andando pela Estrada do Morro da Conceição às vésperas da celebração do Dia de Nossa Senhora da Conceição (8), é difícil não se deparar com cartazes dedicados à governadora Raquel Lyra (PSDB) e ao prefeito do Recife, João Campos (PSB), pendurados em varandas e muros ao longo do trajeto das procissões.
A prática não é incomum. Justamente por ser uma das mais tradicionais festas religiosas da capital pernambucana, realizada na interseção de uma diversidade de bairros populosos, se tornou um palanque fácil para vereadores e lideranças locais conquistarem eleitores devotos.
O diferencial deste ano foi o desabamento do teto do Santuário em agosto. Para o cientista político Hely Ferreira, a tragédia pode se tornar mais um palco do cabo de guerra eleitoral entre Lyra e Campos, mirando na disputa pelo Governo do Estado em 2026.
“Todos os políticos, principalmente os de viés católico, fazem questão de visitar a festa, acreditando que a presença surtirá efeito eleitoral. Com o desabamento no Santuário, a briga se trava justamente em torno de quem teve o maior cabedal para ajudar na recuperação”, analisou.
A gestora tucana prometeu reconstruir o templo antes da realização da 120ª edição da Festa da Imaculada Conceição do Morro – e cumpriu – enquanto o socialista investiu R$ 400 mil em estrutura, logística e atrações culturais.
Com suas contribuições atestadas e as declarações de agradecimento postas competitivamente na Estrada, ambos os gestores devem marcar presença na festa.
Participação
Católico declarado, João Campos sobe o Morro desde criança – antes, acompanhado de seu pai, o ex-governador Eduardo Campos. Sua primeira ação de campanha eleitoral neste ano, ainda na madrugada do primeiro dia da disputa, foi fazer a peregrinação. De acordo com a assessoria do prefeito, ele participa das atividades da festa no domingo (8).
Apesar de não ter divulgado sua agenda, a governadora certamente deve prestigiar o evento no domingo. Também católica, Lyra passou a se familiarizar mais com o Morro depois que assumiu o executivo.
Estado laico
Por mais que o envolvimento do Estado e da Prefeitura tenha beneficiado a população e uma manifestação religiosa e cultural do município, o cientista político Hely Ferreira analisa que o clima de ‘guerra fria’ entre os gestores criado no Morro da Conceição pode acabar ferindo a laicidade do Estado.
“Na hora que o poder público ajuda financeiramente, qualquer entidade religiosa quando tiver algum problema vai querer também receber apoio público. Já que o estado é laico, não se pode beneficiar nenhum credo religioso. Nesse aspecto, a disputa eleitoral em Pernambuco já vem sendo antecipada há bastante tempo. E, lamentavelmente, a religião também tem tido essa participação”, avaliou.
Postado por Sérgio Ramos/Locutor e Blogueiro-07/12/2024
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